
Texto por: Caroline Manzan
Grande parte da humanidade busca estabilidade, rotina e certeza. A questão é que, conforme a tecnologia e a comunicação avançam, o mundo fica menos linear.
O Army War College dos Estados Unidos criou o conceito de “Mundo VUCA” no final da década de 1980, no pós-Guerra Fria. O termo foi criado para descrever o novo cenário mundial, caracterizado por volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Esse conceito já trazia a necessidade da resiliência, adaptação rápida e a inteligência necessária para lidar com o mundo em constante mudança.
Porém, em 2018, o antropólogo Jamais Cascio trouxe um conceito que fez ainda mais sentido após a pandemia do COVID-19: o “Mundo BANI”. Esse acrônimo representa as seguintes características: Frágil (Brittle), Ansiedade (Anxious), Não-Linearidade (Nonlinear) e Incompreensível (Incomprehensible). Se o mundo já é conceituado dentro desse acrônimo, é razoável que o que existe dentro desse mundo siga a mesma lógica. E a pesquisa clínica está inserida dentro desse contexto.
A pesquisa clínica quer avançar, quer trazer inovação para a área da saúde e quer que essa inovação aconteça cada vez de forma mais rápida. Se a gente já conhecia a ansiedade da pesquisa clínica antes do COVID-19, durante a pandemia ela virou nossa colega de quarto, de cama, invadiu cada espaço dos nossos pensamentos, afinal, a vacina era a coisa mais importante para todos naquele momento.
Para alcançar esses resultados, utilizamos estratégias não lineares e talvez até nunca imaginadas, antes para atingir o objetivo de ter a vacina disponível quanto antes. Técnicas foram cruzadas, pessoas apresentadas, empresas colaboraram e as nações se uniram para esse objetivo. Quando não imaginamos algo, quando sequer pensamos em uma possibilidade e aquilo se apresenta para nós, é o que chamamos de incompreensível num primeiro momento.
Esse conceito de mundo BANI nos convida a abrir a nossa cabeça, a colaborar, a utilizar a ansiedade como fator de motivação e a não nos surpreender quando nos deparamos com algo novo. Esse não seria o principal convite de um pesquisador? Partir do princípio que a sua teoria é frágil e, portanto, trabalhar para ter evidências. Estar motivado a encontrar o melhor caminho para o paciente e no tempo que ele precisa. Orquestrar conhecimentos e talentos a fim de ter uma rede de colaboração viva, como um grande cérebro fazendo sinapses. Estar disposto a se deparar com o incompreensível e se questionar novamente para encontrar novas soluções e caminhos.
A revisão 3 do guia de boas práticas clínicas do ICH traz um texto abrangente em processos, mas firme em responsabilidade. Novas técnicas, metodologias e fluxos são bem-vindos e flexíveis desde que a ética e o compromisso sejam o pilar principal.
Que venha o inimaginável como solução para pesquisas cada vez mais rápidas, éticas, confiáveis e idôneas!
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